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Um tico da história da Gazeta em memórias pessoais

Fundada em 25/02/1934, a Gazeta de Alagoas marca seus 90 anos

Por Enio Lins 26/02/2024
charge publicada em 21 de março de 2014, três jornalistas da Gazeta entrevistam Ib Gatto Falcão: os quatro morreram naquele ano
Fotos: Charge publicada em 21/03/2014 - três grandes jornalistas da Gazeta entrevistam Ib Gatto Falcão: os quatro morreram naquele ano em que o jornal completou 80 anos

Enio Lins

Noventa anos de existência é marco indiscutível, especialmente quando essas nove décadas são parte integrante da história de uma comunidade e do próprio país. Este é o caso da Gazeta de Alagoas, fundada em 1934, no dia 25 de fevereiro, em edição dominical, duas semanas depois do carnaval daquele ano.

Como ao longo da edição impressa o leitorado vai encontrar preciosas informações históricas sobre essas nove décadas, vou me ater às memórias pessoais, desde o tempo de leitor-mirim ao período de jornalista nessa casa. Lembranças de mais de 60 anos, pois, antes dos sete já copiava os desenhos da Gazeta.

MEMÓRIAS PESSOAIS

Minhas lembranças sobre a Gazeta estão centradas na condição de leitor, status esse intercalado com uma relação de décadas como integrante (ora como colaborador, ora funcionário) do diário criado pelos irmãos Silveira em 1934 e transformado em potência da imprensa alagoana, a partir de 1954, por Arnon de Mello.

Minha primeira publicação em jornais foi na Gazeta, em 1977: uma charge na coluna “Cidade Universitária”, editada pelo saudoso Manoel Miranda Júnior, à época também um colaborador. Quando escrevo “colaborador”, me refiro a uma parceria sem vínculo empregatício, e refuto o uso do termo como sinônimo de “funcionário”. E mais, destaco que o formato de “colaboração” foi uma grande escola de jornalismo para muitas gerações, abrangendo inclusive os “correspondentes municipais”.

Segui desenhando na coluna do Mané Miranda, depois indo e voltando como voluntário noutras editorias, com colaborações espaçadas. Como jornalista profissional desde 1980, trabalhei em vários periódicos, mantendo amizade e parceria com a redação gazetiana, onde, inclusive, “tirava as férias” do Nunes. Depois, por 18 anos, de 1996 a 2014, integrei o quadro funcional da Gazeta de Alagoas.

SEM VÍNCULO FORMAL

Tive nos desenhos do Nunes Lima as primeiras inspirações para o fazer das charges. Criança, copiava os desenhos dele, apoiado pelo benefício de ter acesso a um bem-alimentado caderno onde Tia Neta (Eunete) colecionava as ilustrações da Gazeta. Um desses rascunhos foi guardado durante décadas por minha mãe, Dona Nia (Eunizze), era tosco desenho a lápis de um Papai Noel de bolsos vazios, que fiz em 1966, aos nove anos, copiando uma charge publicada em dezembro de 1964.

Na adolescência, findei ganhando de presente os álbuns de recordes feitos por Tia Neta com centenas dos desenhos de Nunes Lima, acervo muito útil posteriormente, inclusive quando da edição das charges do mestre, pela própria Gazeta, quando ele se encontrava adoentado e sem condição de finalizar novos trabalhos gráficos.

Nos idos de 1987 tive a honra de desenhar uma caricatura do Nunes, editada com destaque na Gazeta, numa reportagem sobre homenagem prestada ao grande chargista, tributo esse realizado num efêmero endereço etílico-cultural, o PCdoBar, então localizado nas proximidades da Praça Sinimbu, no Centro de Maceió.

Nesse período, final dos anos 80 e começo dos anos 90, colaborei com um ou outro texto de maior densidade, editados em página inteira no caderno cultural da Gazeta. Naquele tempo, acompanhei o excelente trabalho editorial feito por José Osmando no Instituto Arnon de Mello, de onde destaco o antológico “Efemérides Alagoanas”, obra da lavra do maior nome da Arquivologia local, Moacyr Sant’Ana, abordagem que duas décadas depois inspiraria uma das páginas permanentes do suplemento Saber.

COM VÍNCULO FORMAL

No segundo semestre de 1996, após oito anos seguidos longe das redações, exercendo cargos públicos, botei na cabeça que era hora de voltar ao jornalismo. Como existia uma dissonância política em função dos atribulados anos iniciais da década de 90, consultei um amigo e meu professor particular de colunismo político, José Elias: queria voltar ao batente na Gazeta e desta vez, escrevendo. Zé Elias fez brilhante articulação e voltou com o sinal verde, consultados Euclydes Mello (então executivo da OAM) e o próprio sócio majoritário, Fernando Collor. Sem vetos nem restrições, fui admitido na Gazeta, pela primeira vez sob contrato.

Fui recepcionado por dois monstros sagrados do jornalismo alagoano: Zacarias Santana (integrante da diretoria) e Freitas Neto (integrante da redação). Boas-vindas emocionantes, mesmo conhecendo ambos há muitos anos. Em seguida fui recebido pelo editor-geral, Claudemir Araújo, contemporâneo da Universidade Federal de Alagoas e vizinho, durante décadas, no bairro da Mangabeiras. Era um cerimonial espontâneo, mas que demonstrava o alto valor dado pelos funcionários ao ambiente de trabalho, coisa hoje rara ou desaparecida nas empresas de comunicação.

Permaneci contratado pela Gazeta de Alagoas durante 18 anos, passando pelas gestões de Euclydes Mello, Ivan Scala (in memoriam), Vitório Malta, Joaquim Collor de Mello e Luiz Amorim. Convivi com os sócios proprietários Ana Luísa Collor de Mello (in memoriam) e Fernando Collor de Mello, de quem recebi a missão de criar e editar um suplemento cultural voltado para ensaios produzidos por não-jornalistas, o Saber – uma das melhores experiências editoriais em toda carreira.

Nessas quase duas décadas gazetianas trabalhei com grandes profissionais do jornalismo que não mais estão entre nós, como Zacarias Santana, Freitas Neto, Nunes Lima, Penedo, Maria Cândida Palmeira, Bráulio Pugliesi, Jurandir Queiroz, Romeu Mello Loureiro, Valmir Calheiros, Ednelson Feitosa, Gilvan Ferreira, Manoel Miranda Júnior, Falcon Barros, Reinaldo Cavalcanti, Ailton Villanova, Plínio Lins – só para citar alguns dos nomes que hoje são saudade. Luta que segue, sonhando com a sobrevivência da insuperável mídia impressa (hoje sob grande risco no mundo e especialmente no Brasil).

Enfim, essas linhas são um resumo de minhas recordações sobre este veículo que segue fazendo história. Parabéns! Gazeta de Alagoas, você é pedra 90!

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