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Eduardo Bomfim: referência perene na política em Alagoas

Por Enio Lins 30/11/2023

Eduardo Bomfim passou definitivamente para a história na madrugada da segunda-feira, 23 de outubro, depois de quase meio século de presença destacada, marcante, na política maior de Alagoas, e com projeção nacional. Para além dos cargos listados em todos os obituários, seja no Legislativo, seja no Executivo, deve ser destacada a importância dele como formador de gerações, estrategista político, mentor ideológico e protagonista cultural.

INTENSA TRAJETÓRIA

Desde 1972 Bomfim se esmerou em formar novos quadros. Sem paternalismos. Atento, corrigia com firmeza o que considerava equívocos, incompreensões; e, por cinco décadas, se esmerou em impulsionar lideranças. 

Desde sempre foi atilado politicamente, intuindo os movimentos do futuro próximo com muita vivacidade. Pensava adiante, tecia táticas com rapidez e eficiência, como que adivinhasse resultados prováveis e improváveis.

Desde o início sua visão ideológica foi firme e centrada. Fugia a estereótipos e mantinha o senso crítico aguçado. Evitava citações dos guias geniais sem deixar de os estudar intensamente e cobrava estudos à militância. 

Desde a reorganização do PCdoB em Alagoas, em 1972/1973, processo turbinado pela filiação individual da militância advinda da Ação Popular (AP), soube definir objetivos e prazos para o crescimento partidário com êxito inigualável.

Desde que alguém possa se lembrar, foi um ser da Cultura, leitor e cinéfilo voraz, admirador da poesia que não arriscava versos. Era crítico do que considerava erros no próprio campo ideológico, como as estreitezas do “realismo socialista”.

O SORRISO NA FRENTE

Bom humor era uma marca sua. Fazia piadas sobre si próprio e estimulava que descrevessem cenas como a que pegou, num estacionamento, um fusca semelhante ao seu e o dono – numa época sem celular – teve que ir à rádio avisar da troca.

Bomfim se destacou como ninguém na indução da retomada dos movimentos sociais em Alagoas pós-68, especialmente depois das “quedas de 1973” quando a ação repressiva desbaratou parte significativa da esquerda no Estado.

Pela orientação acurada de Eduardo Bomfim passaram a reorganização do movimento estudantil universitário (a partir de 1977) e secundarista (a partir de 1980), a estruturação da luta pelos direitos humanos e pela anistia (1979).

Passaram também por suas diretrizes parte da retomada do sindicalismo combativo, e a criação de entidades como a Federação das Associações de Moradores de Maceió (FAMA) e a União das Mulheres de Maceió (UMMA).

Em poucos anos, entre 1977 e 1994, sua orientação transformou o PCdoB na força hegemônica de esquerda em Alagoas, conquistando vitórias impactantes especialmente nas eleições de 1982 e 1986, consolidando alianças democráticas expressivas.

O SOSSEGO DE GUAXUMA

Eduardo Bomfim não foi infalível, evidentemente. Sofreu os desgastes próprios da guerra política/ideológica, sentiu fundo seus arranhões e, a partir de um determinado momento, recolheu-se, redefiniu-se como estudioso e conselheiro.

Nesta fase recente, virou oráculo prestigiado, buscado por antigas e novas lideranças que rumavam até Guaxuma, transformado em seu recanto predileto, para lhe ouvir e permutar ideias sobre as políticas locais, nacionais e internacionais.

Faltando 26 dias para comemorar seu 74º aniversário, Eduardo Bomfim Gomes Ribeiro se foi, antes da hora. Deixa um legado de grande importância para a história de Alagoas, cujos marcos esperam os devidos estudos e valorização.

Do baú das lembranças me vem o slogan criado, em 1986, pelo luminoso publicitário baiano Orlando Pacheco (in memoriam) para a campanha de Eduardo Bomfim à Constituinte: “A LUTA NÃO TEM FIM”. Luta que segue. Valeu, Bomfim!

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